O escritor francês e filósofo existencialista Albert Camus tem uma frase muito usada até hoje para expressar recomeços: “No auge do inverno, finalmente compreendi que dentro de mim havia um verão invencível”. Inverno, com tempestades, é um tema que a hairstylist Susi Britto, 38 anos, entende bem. Depois de um longo processo de luto, reconexão e cura, a baiana conseguiu dar um novo rumo à sua vida, ao se formar cabeleireira, no ano de 2010, na cidade de São Vicente, na Região Metropolitana da Baixada Santista, em São Paulo. O Prêmio Destaque Nordeste é o primeiro da sua carreira. “Pra mim foi muito importante, é um reconhecimento por toda minha trajetória profissional, ligado às minhas origens. Nem imaginava a mulher que eu me tornaria, mas Deus falou no meu coração que Ele me fez águia e eu acredito muito, no que vem do céu”, declara.
Susi Madureira Britto é filha de Antônio Santana de Britto e Margarida Souza Madureira de Britto. Nasceu em 31 de dezembro de 1984, na cidade de Jacobina, no interior da Bahia. E cresceu com os irmãos Tiago e Samuel na capital de Salvador. Aos 16 anos, ela se mudou com a família para o litoral de São Paulo. Três anos depois, foi morar em Belo Horizonte com um namorado e tiveram uma filha, mas quatro meses depois se separaram. A profissional da beleza voltou para a casa de mãe em São Paulo, onde se uniu a um novo companheiro e passou a viver exclusivamente para a filha. Mas um grave acidente doméstico tirou a vida de Emily, quando ela tinha 1 ano e 7 meses. “Foi muito difícil, foi como se minha vida tivesse acabado ali”, conta em lágrimas.
Susi viveu um longo período de luto e depressão, durante o qual trabalhou como empregada doméstica e numa loja de milkshakes. “Mas com o tempo fui tomando consciência da importância que era continuar vivendo, se Deus permitiu que assim fosse, caberia a mim aceitar e continuar”. Sem ver possibilidade de crescimento na lanchonete, decidiu estudar e fez o curso de cabeleireira. “Durante o dia eu batia milkshake e à noite estudava. Chegou o momento que precisei escolher”, lembra. A cabeleireira passou a trabalhar apenas no salão. “Desde então não parei e fui me apaixonando cada vez mais, entendendo que o cabelo é, simplesmente, o termômetro da mulher, fala exatamente como a gente está. E fui tomando consciência disso na vida das pessoas, me fortalecendo, para através da minha dor, levar amor, carinho e cuidado para outras mulheres”, diz emocionada.
A hairstylist continuou mais cinco anos em São Vicente, casou e passou por um novo desafio, que foi tentar engravidar novamente, após a dor de perder a primogênita. Foram seis meses de tentativas, até conseguir virar a página e conseguir engravidar mais uma vez. “O nascimento de Vitória me deu mais força e motivação para continuar”, revela. Passando por uma crise no casamento, Susi foi para a pequena cidade de Tapira, no interior de Minas Gerais, ficar perto da família, que havia se mudado para lá. Se separou do marido e começou uma nova vida. “Não foi um recomeço fácil, trabalhar como cabeleireira numa cidade pequena e eu também sentia insegurança por estar sozinha com minha filha”, afirma.
Contrariando todas as expectativas, a cabeleireira superou medos, dificuldades, a pandemia e investiu em formação profissional, reencontrando seu verão interior. Em 13 anos de carreira, se especializou em colorimetria, corte, tratamentos e terapia capilar. “Vivo minha melhor fase. Sou mãe solo de duas princesas, além da Vitória, tenho Valentina, de 8 anos, moro na cidade de Araxá e atendo como colorista no espaço da Joice Machado. Sonho ser reconhecida mundialmente como hairstylist, comprometida em entregar o melhor resultado sempre, devolvendo autoestima às mulheres”, afirma Suzi Britto, que ainda faz questão de deixar uma mensagem: “Em um mundo de pedras, seja pérola!”